Campeã em educação no IDHM, cidade de SP tem pais voluntários na Escola
Rose Mary de Souza[1]
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Foto: Rose Mary de Souza |
Imagine
uma cidade no Brasil onde nenhuma criança está fora da escola e que os alunos
tenham opções para ocuparem o tempo ocioso em atividades acompanhadas pelos
pais? Em Águas de São Pedro, estância hidromineral no interior de São Paulo a
189 quilômetros de São Paulo, esses são os motivos apresentados por seus
gestores para justificar o primeiro lugar em Educação no Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do Brasil.
O ranking
dos municípios foi divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e mostrou que dos 5.565 municípios brasileiros, somente
cinco obtiveram índice acima de 0,8 no item educação, o que é considerado
"muito alto". Águas de São Pedro alcançou 0,825, seguido de São
Caetano do Sul (SP) com 0,811, Santos (SP) com 0,806, Vitória (ES) com 0,805 e
Florianópolis (SC) com 0,800.
"Faz
15 anos que não registramos um homicídio na cidade", conta o prefeito
Paulo César Borges, mais conhecido como Paulo Ronan (PSDB). A seu favor, ele
enumera as qualidades naturais da cidade como contribuição para os resultados e
a adequação de uma educação participativa de professores com contribuição de
pais voluntários.
Águas de
São Pedro não tem indústrias, as ruas são tranquilas e não há transtornos
comuns às grandes cidades. "A nossa economia é centrada no turismo, e tudo
o que é arrecadado em impostos predial e de serviços são revertidos ao
melhoramento e aparelhamento da cidade", diz o prefeito. Os maiores
atrativos são as fontes minerais e um balneário com águas medicinais.
Investimento em educação
Para o prefeito é uma obrigação investir, e bem, na educação. Ronan conta que aplica 29% no setor - acima dos 25% mínimo exigido por lei. A cidade tem uma arrecadação prevista de R$ 16 milhões anuais e a pasta de educação terá para este ano R$ 4,6 milhões.
Mesmo sem
nenhuma propriedade rural, o município concentra 41% de área verde, parques com
reserva natural de matas, boa arborização e uma população adulta com excelente
escolaridade e cuja renda média é de R$ 4 mil.
O
prefeito aponta que toda a cidade é monitorada por câmeras de vigilância. É a
menor cidade paulista e a segunda menor no Brasil em extensão territorial, com
3,6 quilômetros quadrados , perdendo para Santa Cruz de Minas (MG). Águas de
São Pedro tem 2.707 habitantes conforme o último censo divulgado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Núcleo Educacional
O prefeito Paulo Ronan conta que solicitou ao governo do Estado de São
Paulo uma verba de R$ 4,5 milhões para edificar um núcleo educacional e
centralizar todos os equipamentos em um só lugar. Segundo o prefeito, antes
mesmo da divulgação dos dados do IDHM, o projeto estava em andamento, com
aprovação do Legislativo. Agora, com os resultados da pesquisa do PNUD[2],
ele prevê uma sinalização mais favorável.
Ronan
explica que o Núcleo Educacional poderá ser instalado em um ponto privilegiado
da cidade, em um terreno ao alto com uma bela vista do horizonte. "A
área total disponível é gigante, de 1 milhão de metros quadrados", comenta
o prefeito. A ideia é conceber um conglomerado com salas de aula,
bibliotecas, quadra de esportes, quadra de tênis, piscinas, departamento
administrativo e um prédio próprio para a secretaria de educação.
O
prefeito diz que a demanda para novas matrículas sempre foi grande. Até
pais moradores de cidade vizinhas estão em busca de vagas em Águas de São
Pedro. "A cidade cresce e temos que ir juntos".
Piano e atividades extras
A secretaria de educação de Águas de São Pedro é sediada em uma sala da
Escola Municipal Maria Luiza Fornasier Franzin. No pátio coberto há um piano ao
lado da escada de acesso ao segundo pavimento. "Uma mãe de aluno vem aqui
às sextas-feiras para tocar aos alunos", conta o secretário de educação
Silvio César Corrente. Para ele, o apoio e contribuição dos pais
com os filhos e colegas dentro da escola é um passo positivo para transformar a
escola em um espaço de prazer para os estudantes. "O ensino de
qualidade é uma sinergia entre pais e escola", aponta o secretário.
Em outras cidades nós teríamos que matricular nossa filha em uma
atividade extra, além da escola, como natação, ou balé, ou judô, mas aqui não é
preciso, na escola já tem tudo. Márcia Marques Cruz - dona de casa
A cidade
conta com 80 profissionais, entre professores, psicólogos, fonoaudiólogos e
psicopedagogos. A rede municipal tem 796 matriculados. No ensino infantil, na
faixa de 4 meses até 5 anos de idade são 180 inscritos. Já as crianças entre 6
a 10 anos são um total de 319 e na faixa dos 11 aos 14 com 297 matriculados. Um
pouco mais da metade são crianças de famílias residentes no município vizinho
São Pedro. O ensino médio (antigo 2º grau) fica a cargo da Escola
Estadual Angelo Franzin, que tem 210 alunos.
O
secretário explica que todos os alunos são inseridos em atividades
extras fora do horário normal das aulas. Com isso, nenhuma criança fica
perambulando na rua. Elas têm aula de resforço para aqueles com
dificuldade no aprendizado, sala de lição de casa, informática, expressão
corporal, esporte e educação física, mas também a hora de brincar com
recreações lúdicas como música, culinária e sala de descanso. A novidade
para breve é um programa de rádio e um jornal. Todos tomam banho, ganham almoço
e lanche - com alimentação diferenciado para diabéticos, por exemplo -
antes de irem embora.
A
administradora de empresas Márcia Marques Cruz, 50 anos, mora em Águas de São
Pedro faz quatro anos e tem uma filha de 3 anos matricula na rede municipal da
cidade. Ela morava em São Paulo e mudou-se para a cidade depois de "ouvir
falar coisas muito boas sobre a cidade e a educação implantada aqui",
falou. Seu marido trabalha na capital e volta para a casa aos finais de semana.
Hoje, ela se dedica apenas aos afazeres domésticos e é voluntária na secretaria
de educação. Dentre as várias atividades entre outras mães e pais de alunos,
ela dá palestras sobre meio ambiente e aulas de culinária de pratos simples e
nutritivos para as crianças.
"Em
outras cidades nós teríamos que matricular nossa filha em uma atividade extra,
além da escola, como natação, ou balé, ou judô, mas aqui não é preciso, na
escola já tem tudo", comenta. Márcia acha que a estrutura das escolas é
boa, o envolvimento dos professores muito bom e a aproximação dos pais são
importantes para o desenvolvimento dos filhos. "A educação é tudo, é a
raiz", completa.
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